— Buscamos esclarecer o que pretendiam, como fizeram e em qual momento eventualmente deu errado, evoluindo para um homicídio. Ainda não podemos afirmar, mas buscamos identificar a intenção inicial dos executores e quem fez o quê.
E, se algo deu errado, em qual momento e por quê — diz a delegada Fernanda.
A Polícia Civil já constatou que, nos momentos que sucederam o desaparecimento da enfermeira, não houve movimentação nas contas bancárias dela.
Emerson está detido desde 13 de julho sob a suspeita de ser o principal mandante do crime. A prisão temporária dele tem validade de 30 dias, por se tratar de crime hediondo, com possibilidade de prorrogação por igual período.
Outras hipóteses
Além da possibilidade de sequestro com objetivo de subtração de bens, as outras linhas de investigação verificam se Emerson mandou matar a prima devido a disputas patrimoniais ou se ela pode ter sido vítima de feminicídio, o que poderia levar o foco para outros potenciais autores. Também é apurada a eventual atuação de um pai de santo de Alegrete, apontado pelo primo como autor de ameaças por supostas dívidas de Priscila.
A Polícia Civil segue trabalhando para identificar os executores. Uma das suspeitas é de que eles sejam integrantes de facção criminosa. Não é descartado, diz a delegada, o envolvimento de outros parentes da enfermeira na concepção do crime, além do primo.
— Ainda temos vários nomes de possíveis executores e não confirmamos 100%. É mais de um nome. Se são indivíduos faccionados, vamos saber na medida em que confirmarmos a identidade de outros envolvidos — afirma a delegada.
Amigas contratam advogados
Amigos e amigas de Priscila que vivem na Europa, principalmente na Irlanda, contrataram os advogados Guilherme Fontes e Matheus Ayres Torres para que façam o acompanhamento do caso e busquem colaborar com as investigações. A intenção é mediar contatos com autoridades e oferecer material de auxílio às investigações, como troca de mensagens e documentos. Parte dos arquivos já foi encaminhada às autoridades.
Também há, entre pessoas próximas, disposição em prestar depoimento, seja na fase de investigação ou de julgamento.
— As meninas estão muito abaladas e querem justiça. Elas não têm outro interesse. E nem teriam como ter. A Priscila vinha muito tocada com toda a situação decorrente da disputa sobre patrimônio — diz Fontes.

Apesar de as amigas terem constituído dois advogados, eles não poderão atuar como assistentes de acusação do Ministério Público na fase de julgamento. O Código de Processo Penal prevê que a habilitação para esse posto deve ser feita somente por familiares ascendentes, descendentes, cônjuge ou irmão.
O caso
Priscila morava desde 2019 em Dublin, na Irlanda, onde trabalhava como enfermeira em um lar de idosos. Ela estava de férias e veio ao Rio Grande do Sul para resolver pendências do inventário da herança do falecido pai, Ildo Leonardi. Durante a agem pelo Brasil, Priscila relatou a pelo menos uma amiga brasileira que vive na Irlanda a percepção de um ambiente tenso, com supostas provocações feitas pelo primo.
A enfermeira estava processando o familiar para cobrar uma dívida de mais de R$ 200 mil por conta do imóvel que era dela e do pai, no qual Emerson reside há anos com a família.
As tentativas da enfermeira de receber o pagamento pela casa vinham fracassando desde agosto de 2020. Em junho de 2023, já em Alegrete, Priscila também foi informada sobre detalhes do inventário de herança. Ela soube que a esposa de Emerson e uma outra prima receberam mais de R$ 167 mil em cheques assinados pelo pai dela.

A maioria dessas transferências, que teriam sido doações, ocorreram em 20 de abril de 2020, exatos 14 dias antes da morte de Ildo por falência de múltiplos órgãos.
À época dessas transações, a enfermeira estava na Europa. Priscila desapareceu na noite de 19 de junho, após ter ido à casa de propriedade dela, no bairro Vila Nova, em Alegrete, habitada por Emerson, para recolher pertences de valor sentimental.
Quando a vítima terminou de recolher objetos, o primo teria chamado um veículo, supostamente uma Duster preta, para que ela se deslocasse até a moradia de uma prima, também em Alegrete, onde estava hospedada.
Priscila não chegou ao endereço da familiar e, na manhã seguinte, o próprio Emerson e a prima com quem a enfermeira se hospedava registraram ocorrência por desaparecimento. O primo culpou um pai de santo pelo sumiço e por supostas ameaças. O religioso existe, e é uma pessoa conhecida por Emerson e também era por Priscila.